Os Saneamentos políticos no «Diário de Notícias» – Verão Quente de 75
Pedro Marques Gomes
Fev. 2014
232 p.
Alêtheia Editores
José Saramago pretendia que o DN fosse “um instrumento nas mãos do povo português, para a construção do socialismo” e que quem não estivesse “empenhado neste projecto” seria melhor “abandonar o Diário de Notícias”. Clarificava-se, então, a linha editorial que o jornal passaria a ter.
A nova direcção do diário com maior circulação nacional durante o “Verão Quente” de 1975 – com tiragens diárias superiores a 100 mil exemplares – prometia, num artigo publicado em primeira página logo a seguir à tomada de posse, “servir o Povo Português e a verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira”, recusando, por isso, subjugar-se a “interesses particulares”.
A 15 de Agosto de 1975 o Diário de Notícias avisava os seus leitores de que tinha tomado conhecimento de um documento, elaborado por um grupo de trinta jornalistas, no qual era questionada a orientação do jornal. Iniciava-se um duro conflito, que rapidamente ultrapassa as portas do velho diário da Avenida da Liberdade, coincidindo com um dos momentos mais “quentes” do período revolucionário português, caracterizado por profundas lutas entre defensores de diferentes projectos políticos para o futuro do país, mas também por diversas tentativas de controlo político-ideológico dos meios de comunicação social.
Este livro, publicado no âmbito da colecção Media e Jornalismo, coordenada por Ana Cabrera, analisa o conturbado processo que culminou no saneamento de uma parte dos jornalistas do Diário de Notícias, conhecido como «Caso dos 24» e que se mantém, ainda hoje, envolto em grande polémica, existindo sobre ele opiniões divergentes. Um caso que não foi apenas um problema laboral, colocando em evidência os diferentes posicionamentos políticos-ideológicos dos trabalhadores do jornal e as lutas internas e externas pelo seu controlo.
Pedro Marques Gomes é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde prepara uma tese sobre a Imprensa e o Poder na Revolução de 25 Abril de 1974, é Mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social. Participou no projecto de investigação “Justiça Política na Transição para a Democracia em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem como principais interesses de investigação a história dos média e do jornalismo e da liberdade de imprensa.