O desenvolvimento que os estudos narrativos conheceram, nos últimos anos, baseou-se em relevantes contributos teóricos, em propostas de trabalho analítico e em mutações epistemológicas e operatórias que recuperaram, para o centro da análise, uma categoria descuidada durante décadas: a personagem. Dentre aquelas mutações destacam-se as seguintes: i) a valorização de abordagens interdisciplinares, que vieram fecundar e aprofundar a teoria da narrativa, enquanto campo de reflexão autónomo, mas não isolado; ii) a afirmação do princípio da transnarratividade, como motivo de abertura para análises que incidem sobre práticas discursivas em princípio não narrativas, mas em que residual ou marcadamente é possível observar a dinâmica da narratividade e a presença de categorias (como é o ca! so da personagem) que lhe estão associadas.
A consolidação dos chamados estudos mediáticos constitui um desafio muito estimulante para o estudo da personagem. Naquele campo de trabalho, hoje legitimado pela presença na academia, assumem uma importância considerável práticas narrativas que, em diferentes suportes, linguagens e contextos comunicativos, procedem à figuração e à refiguração de personagens. Por isso, é possível falar hoje em estudos narrativos mediáticos.
Do ponto de vista social, político e cultural, os discursos dos media e a sua destacada e continuada presença no espaço público permitem que se fale na noção de personagem mediática; essa noção resulta, em grande parte, da anulação de fronteiras que anteriormente interditavam movimentos de passagem e de interação tão sedutores como, por vezes, problemáticos, nos planos discursivo, social e ontológico. As tensões entre o ficcional e o não-ficcional, entre o literário e o não-literário, entre o narrativo e o não-narrativo, entre a personagem e a pessoa comparecem, com frequência, na enunciação dos discursos mediáticos, na televisão, na imprensa convencional, no cinema, na imprensa digital, na rádio, nas redes sociais, etc.
O volume n.º 6 da Revista Mediapolis, com o tema Personagens mediáticas, abre lugar à discussão destes problemas e de outros que eles arrastam. Os contributos que ele há de suscitar poderão distribuir-se por três domínios específicos, eventualmente relacionados entre si:
· O domínio da teoria, incidindo sobre a noção de personagem e sobre as hipóteses da sua reformulação ou mesmo refundação, em contexto mediático.
· O domínio dos estudos de caso, permitindo a abordagem de situações concretas e, tanto quanto possível, exemplares, no respeitante à presença da personagem em discursos mediáticos. Evidenciam-se aqui os procedimentos de figuração, de refiguração e de sobrevida da personagem, em particular quando ela migra de relatos canónicos para narrativas mediáticas.
· O domínio da reflexão social, cultural, política e deontológica, potenciada pela entrada, na cena dos discursos mediáticos, de uma categoria narrativa que usual e institucionalmente tem sido entendida como literária e ficcional.
Os artigos devem ser enviados para rev.mediapolis@gmail.com, indicando no assunto: Call Mediapolis, até dia 15 de julho de 2017. Devem seguir as normas que podem ser consultadas no seguinte link.
CALENDÁRIO
Receção de artigos: Até 15 de julho de 2017
Receção de artigos: De 16 de julho a 15 de setembro de 2017 Comunicação dos resultados: De 16 de setembro a 30 de setembro Publicação: Julho de 2018 |
Coordenadores: Carlos Reis e Ana Teresa Peixinho