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Jacinto Godinho profere conferência sobre a “História do Secreto: Os arquivos da Pide e a manipulação do visível”

O próximo Ciclo de Conferências Internacionais ECATI/MCB conta com a participação de Jacinto Godinho, docente e investigador do CIC.Digital NOVA FCSH e será subordinada ao tema “História do Secreto: Os arquivos da Pide e a manipulação do visível”. A conferência está marcada para o dia 27 de setembro (18h), no Auditório do Museu Colecção Berardo em Lisboa.

Esta conferência é o resultado de um trabalho de nove anos de pesquisas em arquivos. Normalmente o arquivo orienta-nos na estabilização e interpretação da realidade, processando-a em narrativas e daí em história e ou memória. Mas a tarefa proposta de construir uma história visual da polícia política do Estado Novo – A PIDE – implicava a inversão do processo regular de consulta dos arquivos. É preciso procurar no arquivo não o que ele mostra, mas o que ele esconde. Pesquisar nos processos minuciosamente elaborados a impressão, o traço, o indício dos arquivistas, dos homens que construíram e usaram o arquivo para constituir um poder quase total como era a máquina política da PIDE.

O arquivo da Pide não era apenas um representante mnemotécnico, um auxiliar de memória. O seu arquivo era um dispositivo central do espectáculo do sigilo que sustentava a política da polícia política do Estado Novo. Chamo-lhe dispositivo porque é complexo e obriga a leituras diversas: técnicas, políticas e filosóficas. Desde logo o arquivo era usado para construir poder de duas formas. Primeiro para construir uma minuciosa história da oposição. Rigorosa e monumental na descrição de todos os grupos, formas ou sinais deixados por quem se opunha ao regime. A Pide perseguia a oposição com uma imensa visibilidade reticular de palavras e imagens. Mas o verdadeiro poder estava no facto desse arquivo ser secreto. O fundamental poder arcôntico do arquivo, enunciado por Derrida, foi totalmente explorado pela Pide. O arquivo reservado, confidencial, alimenta a autoridade soberana retirada do privilégio de quem pode aceder ao secreto. A lógica do segredo é, no dispositivo, muito mais potente que a relevância dos conteúdos. A mera sugestão de que ali poderão estar os pecados inconfessáveis de milhões de pessoas (mesmo que não existam de todo ou sejam informações irrelevantes) é o suficiente para criar uma potência política fortíssima, para alimentar o medo criando um forte espectáculo do sigilo, fonte de todas as formas de autoritarismo.

A outra forma de construir poder é ocultando-se no arquivo. Invisibilizando-se no fora-de-campo. Os processos da Pide têm os resultados dos interrogatórios aos detidos mas ocultam de forma radical os nomes dos agentes e os métodos investigação, chantagem e tortura, praticados para os obter. A Pide conseguiu ocultar-se por detrás do arquivo que construiu e com isso construiu um duplo poder aliando o poder sobre a visibilidade ao poder da invisibilidade. Requerendo, no fundo, a mesma lógica do poder divino.

Reconstruir a visibilidade do dispositivo da invisibilidade foi a tarefa proposta para a realização de uma série documental sobre a PIDE. Mas esta tarefa de reposição não pode ser feita sem uma avaliação crítica do gesto que nos empurra para este desejo de memória. A memória raramente é um museu do passado. É antes um instrumento político do presente. Convoca o arquivo como forma de individuação requerendo com isso poder e legitimidade. A proliferação de museus e de outras superfícies de inscrição das imagens indicia um mal de memória que interessa também avaliar. A memória raramente é inocente.

Jacinto Godinho

Jacinto Godinho, doutorado em Ciências da Comunicação pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa, é professor auxiliar do Departamento de Ciências da Comunicação da UNL onde lecciona, desde 1993, as disciplinas Teoria da Reportagem, Discurso dos Media e Géneros Televisivos. Entre várias outras publicações destacam-se os livros As origens da reportagem – Imprensa (2009) e As origens da reportagem – Televisão (2011). É também jornalista dos quadros da RTP (Rádio e Televisão de Portugal) desde 1988. Como repórter especial fez vários trabalhos de investigação premiados, como “Tráfico de hormonas para a carne de vaca” (1993) e “Caça aos golfinhos nos Açores” (1994).

Produziu e realizou e várias séries documentais, como é o caso de “Memórias do Cinema Português – 100 anos de história” (2001); “Ei-los que Partem – Uma história da Emigração Portuguesa” (2006), “Os Últimos Dias da PIDE” ( 2015) e “A Pide Antes da Pide” (2016). Venceu por duas vezes o mais importante e prestigiado galardão de jornalismo atribuído em Portugal – o Prémio Gazeta do Clube de Jornalistas.

By |2017-10-04T10:37:36+00:00Setembro 25th, 2017|Notícias|Comentários fechados em Jacinto Godinho profere conferência sobre a “História do Secreto: Os arquivos da Pide e a manipulação do visível”

Conferência Ética Jornalística para o século XXI – Novos desafios, Velhos problemas | 12 Out. 2017

No próximo dia 12 de Outubro, o CIC.Digital NOVA-FCSH e o Departamento de Ciências de Comunicação da FCSH/UNL organizam uma conferência subordinada ao tema Ética Jornalística para o século XXI – Novos desafios, Velhos problemas,, que contará com a participação de Stephen Ward  (University of British Columbia-Vancouver; Editor-in-Chief, Handbook of Global Media Ethics; Founding Director, Center for Journalism Ethics; University of Wisconsin-Madison; Honorary Fellow, School of Journalism and Mass Communication; University of Wisconsin-Madison) um dos mais prestigiados académicos norteamericanos no campo da ética jornalística.

O evento realiza-se na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (edifício I&D, sala Multiusos 2, 4º andar), em Lisboa.

Esta conferência junta académicos, profissionais e estudantes para debater as questões éticas na prática contemporânea do jornalismo. A digitalização alterou os formatos, os suportes e as linguagens jornalísticas de uma forma radical, obrigando a reformular os instrumentos de regulação. Vamos tentar responder à seguinte pergunta de partida: Como podemos repensar as velhas questões que fundaram a legitimidade social do jornalismo e são fundamentais para garantir a sua sobrevivência e relevância no futuro?

Três painéis de especialistas irão debater as “velhas” questões no contexto dos “novos” media. Entre académicos, jornalistas e representantes das entidades profissionais de regulação, vamos abordar a natureza da relação com os públicos e  os poderes, a transformação dos valores notícia e das narrativas do jornalismo, os direitos e os deveres dos jornalistas, os usos da tecnologia e o valor da ética em práticas específicas, como a investigação jornalística, e a necessidade de um novo código ético mais adaptado aos desafios da sociedade digital. Pretendemos contribuir para responder a preocupações actuais que atravessam a profissão, a sociedade e as instituições que têm responsabilidades na regulação da comunicação e do jornalismo em Portugal, como a Entidade Reguladora da Comunicação e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

A conferência inaugural será proferida por Stephen Ward que vem apresentar também o seu último livro, Radical Media Ethics (2015), que propõe um novo quadro de valores para pensar a ética do jornalismo.

Entrada livre sujeita a inscrição prévia através do e-mail patriciacontreiras@fcsh.unl.pt

Serão entregues certificados de presença aos inscritos.

Programa e Informações adicionais sobre o evento podem ser consultadas através do link do site:

http://fabricadesites.fcsh.unl.pt/eticajornalistica/

Pedidos de entrevistas com Stephen Ward ou outros detalhes devem ser encaminhados para​: ​

carlamariabaptista@gmail.com

By |2017-09-25T14:57:20+00:00Setembro 25th, 2017|Conferências e Eventos|Comentários fechados em Conferência Ética Jornalística para o século XXI – Novos desafios, Velhos problemas | 12 Out. 2017

ERC STARTINGS GRANTS – DEADLINE: 17 DE OUTUBRO 2017

Está aberta até 17 de outubro de 2017 a fase de candidaturas às bolsas ERC Starting Grants. Estas bolsas destinam-se a investigadores com um currículo de excelência científica que queiram desenvolver o seu projeto em qualquer área científica.

As bolsas têm uma duração de cincos anos com um orçamento total de 1,5 milhões de euros. A submissão da candidatura deverá ser realizada aqui.

By |2017-09-22T10:29:10+00:00Setembro 22nd, 2017|Actual Notícias|Comentários fechados em ERC STARTINGS GRANTS – DEADLINE: 17 DE OUTUBRO 2017

Investigadores do CIC.Digital no ECREA Television Studies

Um grupo de investigadores do CIC.Digital, da NOVA FCSH, apresentará no próximo mês de Novembro na Universidade de Málaga, na conferência “The Future of European Television: Between Transnationalism and Euroscepticism”, no ECREA Television Studies, uma comunicação subordinada ao tema “Public service media, pluralism and diversity”.

Trata-se de um trabalho enquadrado na investigação a decorrer no âmbito do projecto DIVinTV – Televisão pública e diversidade cultural em Portugal: um estudo sobre a programação dos canais públicos generalistas, em matéria de pluralidade de expressão cultural, diversidade e inclusão, que tem coordenação de F. Rui Cádima. Projecto FCT (PTDC/IVC-COM/4968/2014).

By |2017-09-22T01:30:26+00:00Setembro 22nd, 2017|Notícias|Comentários fechados em Investigadores do CIC.Digital no ECREA Television Studies

Ana Margarida Barreto no XV IBERCOM

Com uma comunicação sob o título “Understanding blood donation by examining the effect of framing messages, individual and social-based facts”, Ana Barreto participará no próximo XV Congresso Internacional IBERCOM, a ter lugar na UCP, em Lisboa, 16 a 18 de novembro de 2017.

Abstract:

This paper aims to test whether it is possible to stimulate social behavior by applying framing theory, proposed by prospect theory, and to undertand which of the different proposals of explanation for the occurrence of pro-social behavior (attribution theory, social learning, theory of self-perception, social norms, altruism and empathy) can better “predict” pro-social behavior.

Two framed messages were developed (loss-framed and gain-framed messages) and presented to 138 university students, who after answered an online survey to measure their personality traits with respect to the above theories.

According to these findings, when altruism and social responsibility scores increase there’s an increase of the odds that the respondent would not donate blood. On the other hand, people with highest social influence score are six times more likely than those with lowest social influence score to donate blood, which stress the importance social support has on pro-social behavior. The remained variables did not add significantly to the prediction, namely framing messages (gain vs. loss) had no significant main effect on blood donation intention.

By |2017-09-18T15:25:20+00:00Setembro 18th, 2017|Notícias|Comentários fechados em Ana Margarida Barreto no XV IBERCOM

Colóquio Internacional «Artepel’emoção: Fronteiras-em-ausência. Arte [e Artistas: Criação de/em] Emoção in Consciência» | FCSH-NOVA: 2-4 Outubro ’17

artepel’emoção

Entrada livre

2 a 4 de Outubro de 2017
org. Fernando Ribeiro, CHAM / NOVA FCSH – UAc

Toda a informação em: http://www.fcsh.unl.pt/artepelemocao/


Programa (PDF)

Tempos e espaços:

Inscreva-se aqui

     

 

 

By |2017-09-26T18:31:32+00:00Setembro 18th, 2017|Actual Conferências e Eventos|Comentários fechados em Colóquio Internacional «Artepel’emoção: Fronteiras-em-ausência. Arte [e Artistas: Criação de/em] Emoção in Consciência» | FCSH-NOVA: 2-4 Outubro ’17

NOVA Escola Doutoral “Food for Thoughts”

Que projetos estão a desenvolver os estudantes de doutoramento da NOVA? Que programa posso usar para estruturar o meu projeto de tese? Como posso gerir o meu tempo de forma mais eficiente?

Este é o mote da próxima NOVA Escola Doutoral “Food for Thoughts” que conta com a participação da investigadora Dora Santos Silva, que apresenta um poster sobre o seu doutoramento.

1.ª edição do Food for Thoughts | 11 de outubro – 13h | Reitoria da NOVA.
Almoço convívio
Apresentação de alguns pósteres de estudantes de Doutoramentos e Alumni que participaram em cursos da NOVAED
Workshops Paralelos sobre Desenho de Investigação e Gestão de Tempo.
Inscrições até dia 30 de setembro no link:https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSc8bQKlm8B4PlvG3iNiDKh6HlCCIG7-f6rSUjUX3-ADzB_csA/viewform

By |2017-09-18T10:51:26+00:00Setembro 18th, 2017|Notícias|Comentários fechados em NOVA Escola Doutoral “Food for Thoughts”

Ioli Campos no ICIDS 2017

Ioli Campos, doutoranda de Ciências de Comunicação e investigadora do CIC.Digital FCSH/NOVA, apresenta em Novembro, um short paper intitulado “Interactive Storytelling to Teach News Literacy to Children” na 10th International Conference on Interactive Digital Storytelling, na Madeira. Os proceedings da conferência serão publicados como um volume da Springer Lecture Notes in Computer Science (LNCS) “Interactive Storytelling” series.

Mais informações aqui: http://icids2017.m-iti.org/

By |2017-09-18T10:48:51+00:00Setembro 18th, 2017|Notícias|Comentários fechados em Ioli Campos no ICIDS 2017

Fernando Carlos Moura no SET EXPO 2017 – 29º Congresso de Tecnologia em São Paulo

O CIC.Digital FCSH/NOVA – Centro de investigação de Comunicação, Informação e Cultura Digital, esteve representado, no dia 24 de agosto, no SET EXPO 2017 – 29º Congresso de Tecnologia, que teve lugar São Paulo. Participou no evento o investigador Fernando Carlos Moura, que moderou o painel “A Visão da Comunicação para o Futuro do Broadcasting e Novas Mídias”.

O painel teve como objetivo analisar as mudanças na cadeia de produção audiovisual, com ênfase na distribuição de conteúdo e como o comportamento da audiência está mudando frente às novas demandas de consumo, tanto no audiovisual como na rádio. Assim foram analisadas as novas plataformas de distribuição audiovisual por streaming, sejam estas VoD ou OTT, e as novas ferramentas de distribuição de conteúdo.

Foi uma oportunidade única para trocar experiências com aqueles que dão o suporte e ferramentas para produção e distribuição de conteúdo.

Toda a informação:

http://www.set.org.br/events/setexpo/programacao/#A

Fernando Carlos Moura é Jornalista, professor do Curso de Jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi; professor do Curso de Pós-graduação em Produção Executiva e Gestão da Televisão da FAAP (Fundação Armando Alvarez Penteado) e pesquisador do Centro de Investigação Media e Jornalismo CIC.DIGITAL FCSH/NOVA.

By |2017-09-18T10:47:35+00:00Setembro 18th, 2017|Notícias|Comentários fechados em Fernando Carlos Moura no SET EXPO 2017 – 29º Congresso de Tecnologia em São Paulo

XV Congreso da Asociación de Historiadores de la Comunicación com forte participação do CIC.DIGITAL

Vários investigadores do CIC.DIGITAL participaram no congresso da Asociación de Historiadores de la Comunicación (AHC), que decorreu de 14 a 15 de setembro de 2017, na Universidade do Porto. Ao todo foram apresentadas 7 comunicações de investigadores associados ao centro.

O CIC.DIGITAL tem participado ativamente nos congressos da AHC, uma das mais importantes associações de investigadores na área de media em Espanha.

Carla Baptista, coordenadora do grupo de Estudos dos Media e do Jornalismo da mesma unidade, explicou as várias etapas da vida profissional de Hermano Neves (1884-1929), com destaque para as suas prolongadas colaborações com os jornais diários O Século, Mundo e A Capital. Embora seja considerado um dos grandes jornalistas do seu tempo, não mereceu ainda o reconhecimento devido.

Existem alguns textos evocativos, a maioria inspirados pelo filho, outro jornalista de grande talento (Mário Neves) e um perfil de homenagem, escrito pelo jornalista e discípulo Norberto Lopes, salientando as qualidades do repórter (Hermano Neves, A Arte da Grande Reportagem, 1985). Nesta comunicação fez-se o levantamento das principais etapas da vida profissional de Hermano Neves, com destaque para as suas prolongadas colaborações com os jornais diários O Século, Mundo e A Capital. Recorrendo a pesquisa em arquivo (arquivos pessoais e hemeroteca), situamos o percurso de Hermano Neves em articulação com as convulsões politicas e sociais do tempo em que viveu. A sua vivência do jornalismo é indissociável da paisagem politica do republicanismo, tendo sido testemunha dos principais acontecimentos desse tempo histórico (começando pela revolução de 5 de Outubro, passando pelas várias tentativas de restauração monárquica, pela participação portuguesa na I Guerra Mundial e pelo golpe militar de 1926, altura em passou a escrever apenas na imprensa clandestina). Experimentou quase todos os “lugares” da profissão, desde repórter, redactor, critico, correspondente no estrangeiro e repórter de guerra. Escreveu livros, quase todos compilações de textos jornalísticos, dirigiu panfletos (o Fora da Lei) e fundou jornais (A Vitória). Ajudou a formar o sindicalismo jornalístico e a criar uma consciência profissional, tendo reflectido sobre os valores e os limites da profissão em vários dos seus textos publicados em jornais, mas ainda dispersos. O seu contributo reflecte e amplia, pela qualidade, experimentação e inovação, os valores do jornalismo do início do século XIX: ainda herdeiro das disputas políticas e literárias do século XIX, culto e erudito, mas já apontando para um território mais profissionalizado, buscando as convenções narrativas do jornalismo moderno e procurando extrair sentido das convulsões do mundo contemporâneo. Hermano Neves brilhou em vários géneros jornalísticos: na reportagem, entrevista, perfil, crónica e artigo. Assinalamos os principais marcos nestes géneros, traçando a biografia do jornalista que viveu a sua profissão como um prolongamento da sua intervenção cívica, politica e literária.

“O espetáculo da informação visual: A gravura de madeira e a cobertura gráfica dos acontecimentos nas revistas ilustradas portuguesas (1840-1900)” foi o título da comunicação do docente e investigador Jorge Pedro Sousa.

No século XIX, recorrendo a gravuras de madeira, as revistas ilustradas foram atores centrais e pioneiros na cobertura gráfica dos assuntos e acontecimentos da atualidade, particularmente na segunda metade do século. A representação visual do mundo patente nas revistas ilustradas foi-se alargando, nessa altura, dos temas habituais da natureza, do património e das personalidades das elites políticas, militares e artísticas aos espetáculos, às cerimónias públicas, à moda, às guerras, aos crimes, aos acidentes e ao desporto. Os gravadores contaram-se entre os primeiros produtores regulares de iconografia informativa e, num certo sentido, entre os primeiros “jornalistas de imagem”. Tentamos demonstrar, analisando as gravuras sobre assuntos e acontecimentos da atualidade produzidas em Portugal e difundidas pelas revistas ilustradas portuguesas entre 1840 e 1900, que esses manufatureiros de informação visual cultivaram padrões estéticos realistas e naturalistas de representação da realidade visível. Num contexto dominado por doutrinas como o positivismo e o materialismo, pela solidificação de uma “cultura dos factos” cientificista e pela estandardização da produção trazida pela Revolução Industrial; incorporando, na sua praxis, o cultivo da “verdade”, valor importado da historiografia e transmitido ao jornalismo desde a Modernidade, os gravadores guiaram-se, na cobertura gráfica da atualidade, pela intenção de verdade, presenciassem ou não os acontecimentos que transpunham para as gravuras. Ou seja, os gravadores procuraram adequar iconicamente as gravuras às realidades representadas, tendo em vista a redução da ambiguidade na atribuição de significados aos assuntos e acontecimentos da atualidade durante o ato de leitura. Criaram, pois, o que se pode considerar uma objetividade visual pragmática, fundada numa interpretação gráfica holística, naturalista e realista dos temas da atualidade, predominantemente narrativa (e mais raramente conceptual), mas composicionalmente guiada por padrões expressivos e estéticos importados da pintura. Essa proximidade às belas-artes, campo do qual os gravadores eram originários, promoveu a sua autorrepresentação como “artistas” e não como “jornalistas” nem como “repórteres”. Assim, embora aceitassem, na sua praxis rotineira e quotidiana, o papel de agentes “técnicos” de transposição realista e naturalista de relatos orais ou escritos, fotografias e desenhos para gravuras de madeira, os gravadores, por vezes, praticaram liberdades expressivas e estéticas mais conotáveis com a arte do que com o jornalismo. Logo, ocasionalmente, no domínio da modalidade, alguns gravadores afastaram, em certos pormenores, as imagens que produziam da realidade, sobretudo por meio da supressão ou adição de elementos ou pelo sacrifício do conteúdo à composição, sem que, no entanto, a sua ação afetasse a intenção de representar holisticamente os temas da atualidade fundando-se em abordagens realistas e naturalistas dos mesmos e, quase sempre, na narração visual de acontecimentos. A sua prática contribuiu, também, para a emergência de novos géneros jornalísticos, caracterizados pela junção de imagens às palavras, assumindo a palavra, em determinadas circunstâncias, somente o papel de complemento ao texto visual. A reportagem gráfica, caracterizada pela multiplicação de imagens e, portanto, de diferentes perspetivas sobre um assunto da atualidade, expandiu-se pelas revistas ilustradas, contribuindo para reforçar a sua identidade entre os dispositivos jornalísticos.

“O rádio como veículo do mundo e objecto de espectáculo: uma análise exploratória da publicidade aos aparelhos de rádio em Portugal (1929-1965)” foi o título da comunicação de Cláudia Henriques, investigadora do CIC.Digital Pólo FCSH e doutoranda de Estudos de Comunicação – Tecnologia, Cultura e Sociedade (dout. FCT).
A autora parte de uma recolha de anúncios de imprensa a aparelhos de rádios para, através deles, analisar o discurso publicitário sobre o objecto tecnológico e apurar a representação que este tipo de discurso faz dos receptores de rádio.
Desmontando este discurso publicitário a investigadora pretende aceder à representação social e cultural que a publicidade opera sobre o meio rádio. Ou seja, o foco não é a tecnologia ou as características técnicas dos objectos, e muito menos a actividade publicitária per se; procura-se, antes, lançar um primeiro olhar sobre os usos sociais e o imaginário associado à rádio que são “vendidos” pelos anunciantes.
Através da recolha e análise de mais de 200 anúncios publicitários extraídos da imprensa diária (Diário de Lisboa, Diário de Notícias e O Século) e semanal (O Século Ilustrado), entre 1929 e 1965, percebemos como a imagem publicitária aplicada à rádio, num contexto de incremento do consumo, chama a si conceitos como o de “sociedade do espectáculo” de Guy Debord. Esta linguagem publicitária anuncia uma rádio que, sendo um “meio cego”, nem por isso deixa de, a partir da familiaridade do lar, colocar o mundo à disposição do ouvinte, através de peças teatrais, programas musicais ou noticiários. A rádio é, pois, instrumento de espectáculo. Com o aparecimento do transístor, a nanização dos objectos, a diminuição de preço e a possibilidade de os levar para qualquer lugar, o espectáculo que a rádio proporciona galga as fronteiras do lar e inscreve-se numa progressiva individualização do consumo. O espectáculo ganha o sentido de portatibilidade do objecto e segue o ouvinte para onde ele for.

A comunicação de Sílvia Torres, teve como destaque “Fernando Farinha e a Guerra Colonial Portuguesa: o soldado-repórter “a bem da Nação”.

Numa fase inicial, a Guerra Colonial – luta travada entre as forças armadas portuguesas e as forças organizadas por vários movimentos de libertação de Angola, da Guiné Portuguesa e de Moçambique – chegou à imprensa portuguesa, da metrópole e das províncias ultramarinas, através de comunicados oficiais, com reduzidas e parciais informações sobre o conflito. Fernando Farinha não se contentou com esta informação oficial e com os relatos que recolhia, em Luanda, entre vítimas da guerra e, ainda em 1961, partiu para o teatro de operações e estreou-se como repórter de guerra. Até 1974, noticiou o conflito, inicialmente através do jornal diário O Comércio e depois da revista semanal Notícia, ambos de Luanda (Angola).

Fernando Farinha fez a cobertura jornalística da guerra nas três frentes – Angola, Guiné Portuguesa e Moçambique (então províncias ultramarinas portuguesas) – e ao longo dos 13 anos que o conflito durou. Como enviado especial ao serviço d’O Comércio e da Notícia tornou-se perito em assuntos militares e, principalmente em Luanda, era conhecido por “jornalista soldado”. “Meti-me na guerra de tal maneira que, a certa altura, já não era eu que ia à guerra, era a guerra que vinha ter comigo”, diz hoje Fernando Farinha, já reformado, a residir em Lisboa.

O jornalista soldado foi um repórter parcial e voluntário que se tornou afamado por corajosamente noticiar o conflito. Foi protagonista das próprias reportagens e chegou também a ser notícia por noticiar a guerra. Fernando Farinha foi também vítima da censura, que controlava fortemente a circulação de notícias tendo especial atenção ao tema guerra, e, consequentemente, praticante de autocensura. Residia no território onde o conflito deflagrou e noticiou apenas um dos lados da guerra, o lado português, aquele que pessoalmente defendia e aquele que lhe permitia cumprir a missão de reportar com segurança. Através das suas reportagens, destacou o conflito, favorecendo sempre os “heróis” de Portugal (forças armadas portuguesas) em detrimento dos “bandoleiros” (movimentos de libertação) que atacavam o império lusitano que começava no Minho e terminava em Timor. Conquistou a confiança dos militares portugueses e do Estado Novo, regime político que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974.

Para traçar o perfil deste soldado-repórter recorreu-se essencialmente à análise de publicações ultramarinas e de recortes da censura e também a entrevistas a profissionais que, na época em causa, trabalharam em meios de comunicação das províncias ultramarinas, sendo um deles o próprio Fernando Farinha, que terminou a sua carreira em Lisboa, ao serviço do jornal Diário de Notícias.

Este retrato de Fernando Farinha insere-se num estudo mais alargado sobre a cobertura jornalística da Guerra Colonial feita pela imprensa portuguesa de Angola, da Guiné Portuguesa e de Moçambique, realçando reportagens e repórteres de guerra da imprensa ultramarina. A presente investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (referência SFRH/BD/108106/2015), está a ser desenvolvida no âmbito do Doutoramento em Ciências da Comunicação, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o apoio do CIC.Digital – Centro de Investigação em Comunicação, Informação e Cultura Digital.

O espetáculo do futebol: como os jornais desportivos portugueses “contaram” as vitórias do Futebol Clube do Porto na Liga dos Campeões (1987 e 2004), foi o título da comunicação que Patrícia Teixeira proferiu em co-autoria.

A Bola, O Jogo e o Record são os periódicos portugueses que, regularmente, nos informam sobre aquilo que acontece no mundo do desporto, tanto a nível nacional como internacional. Sendo o futebol comummente apelidado de desporto-rei, é com naturalidade que as notícias sobre este desporto sejam aquelas que ocupam um maior número de espaço e de páginas nestes jornais. Uma das competições de maior relevo e espetacularidade do futebol é a Liga dos Campeões (LC), sendo que uma vitória nesta competição equivalha ao que popularmente se chame de “cereja no topo do bolo”. O Futebol Clube do Porto (FCP) já venceu por duas vezes esta competição: em 1987 e em 2004. Dezassete anos separam estes dois momentos gloriosos, ambos relatados nas páginas dos jornais que acima se apresentam. Como relataram estes periódicos as vitórias do FCP na LC? Qual dos jornais dedicou mais “papel” no noticiar deste momento? Que comparação pode ser estabelecida entre eles no que à forma de noticiar o acontecimento diz respeito? Os dezassete anos de diferença entre os dois momentos contribuem para que se notem grandes diferenças? E semelhanças, constatam-se? Que evolução se deteta de 1987 para 2004? As maiores conquistadas são relatadas de forma mais emotiva que as notícias do dia-a-dia? O contexto da época terá influenciado o discurso dos periódicos? Que tipo de notícias apresenta cada uma das publicações? Como se distribuíram as notícias longas e curtas, comentadas e não? Como foram recolhidas as primeiras impressões dos intervenientes? Qual ou quais publicação/publicações investiu/investiram mais recursos humanos para fazer a cobertura jornalística do evento? Que tipo de imagens acompanharam os texto? É nestas e em perguntas como estas que se encontra a razão de ser deste estudo que tem por objetivo central descrever e comparar o discurso dos três periódicos desportivos portugueses – o objeto – no momento de relatar as duas vitórias do FCP na LC (28-05-1987 e 27-05-2004), sendo que, para o estudo em causa, foram apenas considerados os números publicados imediatamente a seguir ao acontecimento. Assim, procedeu-se à leitura integral dos seis números em questão, bem como ao levantamento de todas as peças publicadas nos periódicos na data referida, bem como das imagens que as acompanham, que dizem respeito ao acontecimento, e procurou perceber-se quais as razões para o seu comportamento discursivo. Para a realização desta investigação, procedeu-se a uma análise quantitativa (análise de conteúdo), efetuada com recurso a categorias definidas à priori, de forma a emprestar mais sistematicidade ao trabalho. Foram também escolhidos alguns exemplos para ilustrar as tendências discursivas detetadas em A Bola, O Jogo e Record. Apesar de este ser um estudo em iniciação e numa fase ainda exploratória, o que não permite adiantar grandes conclusões com pena de serem resultados pouco fiáveis, é já possível afirmar que o destaque dado a este acontecimento foi, de facto, enorme nas três publicações periódicas desportivas e nos dois períodos temporais em questão. Todas elas prepararam a cobertura jornalística do badalado e importante evento desportivo com o devido cuidado e atenção que merecia e enviaram diversos colaboradores para o palco onde tudo aconteceu. Também já é possível perceber que entre os dois períodos temporais há diferenças notórias na forma de apresentar as notícias, como seria expectável dadas as mudanças e a evolução que o jornalismo vem sofrendo.

O objeto de estudo da comunicação de Helena Lima (docente e investigadora do CIC.Digital) foi a ”Informação e espetáculo na morte de Salazar. Estratégias discursivas da imprensa portuguesa”.

Do ponto de vista do jornalismo, a morte é um valor central, na medida em que ela se enquadra no campo dos acontecimentos dramáticos que constituem a essência da história jornalística (Golding, Elliott, 1988). De acordo com Sutton (2005), a morte, enquanto acontecimento brutal e inesperado, é suscetível de se transformar em notícia e se a esta valoração se acrescentar ainda o fator proeminência, quando se reporta a uma figura pública a sua valoração é evidente. A morte de um estadista configura um acontecimento jornalístico de topo da hierarquia noticiosa, que configura um conjunto de critérios que vão ao encontro dos valores-notícia (Hanusch 2010; Seaton 2005; Walter), mas que pode ainda ser entendida como informação-espetáculo, pelo ambiente emocional que é criado. A imprensa está, dada esta conceptualização, repleta de notícias onde a temática da morte é central, mas em regra associada a outros aspetos entendidos como critérios de noticiabilidade, como violência, desastres ou factos que de alguma forma nos são dados a conhecer através de relatos melodramáticos. No caso das grandes figuras públicas, a organização da máquina noticiosa permite ao público uma participação indireta, através da forma como constrói a composição jornalística. As narrativas têm uma capacidade informativa que remete para a factualidade, mas simultaneamente podem transmitir uma carga emocional, que decorre do próprio acontecimento, mas que pode ainda ser enfatizada pela composição e pela adjetivação do discurso. A morte das figuras públicas tem sido particularmente estudada, à luz das grandes transmissões televisivas ou colocando a enfase na cobertura imagística. (Dayan, Katz, 1999; Mesquita, 2003). A análise de discurso sobre a morte de personalidades da elite não se tem debruçado tanto na narrativa textual, sendo a composição da imagem um dos aspetos mais relevantes da construção da mediática. Contudo, o ambiente emocional é parte da estratégia textual dos jornais, contribuindo assim para um ambiente de informação-espetáculo onde o leitor é convidado a participar. A morte de António Oliveira Salazar corresponde a um desses processos de um ambiente construído, em que a imprensa portuguesa contribuiu, para a criação de modelos discursivos-tipo que contribuíram, de acordo com Fernandes (2013), para efeitos de sacralização e mitificação, presentes também em elementos visuais. A morte de Salazar pode ser vista á luz de dois momentos de informação-espetáculo distintos, na perspetiva da veiculação de dois dos principais processos de mitificação do ditador. As cerimónias fúnebres sumptuárias descritas na imprensa e que correspondem às honras prestadas ao estadista, em Lisboa, remetem para o ideal construído de salvador da pátria.

Mais informações: https://xvcongressoahc2017.up.pt

By |2017-09-18T10:44:02+00:00Setembro 18th, 2017|Notícias|Comentários fechados em XV Congreso da Asociación de Historiadores de la Comunicación com forte participação do CIC.DIGITAL
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